sábado, 29 de setembro de 2007

O que é construtivismo?
by Fernando Becker
"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento." "Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural da Humanidade’)." "Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento – e, por conseqüência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais."
Publicação: Série Idéias n. 20. São Paulo: FDE, 1994. Páginas: 87 a 93

Para saber mais acesse o arquivo completo em pdf .
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-093_c.pdf
Editoras esperam uma 'explosão' de vendas na Bienal
Expositores queixam-se da falta de público na feira e já planejam promoções para o fim de semana- Roberta Pennafort, do Estadão

RIO - Aconteceu assim na famosa Bienal - As editoras na Bienal do Livro do Rio, que termina domingo, estão contando com uma explosão nas vendas no fim de semana. No primeiro, o resultado foi, em média, pior do que o registrado na última edição. Quando se contabilizam todos os dias de feira, no entanto, as grandes empresas calculam que os resultados de 2007 estejam superiores aos de 2005: a Rocco experimenta aumento de 20%; a Objetiva e a Nova Fronteira, de 10%. Mas há vendedor reclamando de falta de público.
O resultado consolidado só sairá depois do domingo, quando acaba a bienal. No entanto, a avaliação da Record - o maior grupo editorial do País - já é bem positiva. "No primeiro sábado, vendemos pouco menos que no primeiro sábado de 2005. Percebemos que os livros estavam mais caros no nosso estande do que no da (livraria) Saraiva. Então, no domingo, começamos a dar descontos de 15% na compra do segundo livro, e de 20% no terceiro. Aí o faturamento foi muito superior ao de 2005", contou a diretora editorial, Luciana Villas-Boas.
Para o fim de semana, ela promete novidades: "Estávamos marcando bobeira; é capaz de inventarmos mais promoções. O brasileiro é muito sensível a desconto." Segundo Luciana, os mais vendidos têm sido os títulos do selo Galera, destinado ao público jovem, seguido por A Cabeça do Brasileiro, organizado por Alberto Carlos Almeida.
Paulo Rocco, dono da editora que leva seu nome e presidente do Sindicato Nacional dos Editores, "não ouviu ninguém falar nada sobre vendas ruins". E ressaltou que o mais importante não é vender livro, e sim a festa literária. "Nossa vocação não é vender livro, é a educação, a cultura. Se fosse só vender, bastava armar uma barraquinha na rua."

Vejam só, estávamos falando desse assunto em nossa aula, será que o brasileiro gosta de desconto mesmo , ou será que os livros continuam caros, e se eles dão desconto na feira, porque já não repassar esse valor menor ao publico? As oportunidades estão boas mesmo ou enganam a olhos nus? E se a vocação, como diz o Sr. Rocco, é a educação, a cultura, porque o livro sai tão caro? Será porque o Brasil é um país de afortunados? De pessoas com poder financeiro? Educação de quem? De crianças? Acho que a maioria que compra livros são estudantes, sim, mas de cursos superiores, já com algum poder aquisitivo.
Será que estão preferindo um futuro próximo em que seria melhor comprar um livro em uma barraquinha de camelot, (assim como já se encontram CDs e afins)onde os vendedores diriam mais ou menos assim: "Três por R$10,00, quem vai querer?" Realmete, se o prazer da leitura não for incutido nas crianças, como discutido em aula, essa realidade que a Bienal mostra se tornará cada vez pior, estaremos perderemos o controle do país para a minoria capitalista? - Ciclo Vicioso

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Qi Mental
Uma novidade no mundo da medicina alternativa está provocando muita discussão. Não é nada de comprimidos, gotas, injeções. O remédio usado é a força do pensamento.A técnica se chama QI Mental e ela está sendo usada para o tratamento de algumas doenças (tendinite, asma, enxaqueca, etc) e distúrbios, como a obesidade. É isso mesmo! O QI mental está ajudando muita gente a emagrecer.O termo "QI" significa energia, em chinês. A médica Márcia Yamamura destaca que a energia da mente do paciente é mobilizada, direcionada para o tratamento da doença.O médico induz o paciente a buscar na memória, no subconsciente, lembranças do passado, de acontecimentos ruins. Segundo os especialistas, a origem de quase todas as doenças está no emocional das pessoas. O médico João Yokoda aplica a técnica em seus pacientes. Antes disso, ele mesmo testou a novidade. Em outubro de 2000, Yokoda pesava 108,3 kg. Dois meses depois, em dezembro de 2000, já estava com 89,5 kg. Perdeu quase 20,5 kg. Não voltou mais a engordar.Ele é acupunturista, homeopata e cirurgião geral. Há quatro anos, descobriu o QI mental em um curso de acupuntura.Hoje, ministra um workshop que atrai 100 pessoas por curso. Basicamente, a técnica consiste em mentalizar o corpo e o peso ideal. Para isso, a pessoa precisa relaxar, ou seja, estar despreocupado e concentrado no pensamento. Durante dois ou três minutos, a pessoa projeta uma imagem que gostaria de ter. mentaliza a gordura do corpo sendo dissolvida, o corpo ficando magro, a alegria, a descontração do novo perfil. Para vencer a compulsão de comer, o indivíduo deve se imaginar comendo aquilo que mais tem vontade, com gosto, até saciar a fome. Esse exercício serve para inibir o desejo pelas guloseimas. De acordo com o médico, o pensamento influencia o cérebro, que envia as informações para o subconsciente que as executa no organismo. A mentalização deve ser feita três vezes ao dia. Em São Paulo, 300 pessoas já deixaram de ser obesas buscando os segredos do subconsciente. O QI mental pode ser uma das boas novidades da medicina, dizem os pesquisadores.
By Repotagem exibida no programa Mais Você - 14/07/2004

"Hoje fui ao acunpunturista e ele me falou dessas técnicas que estão sendo aliadas da medicina, assim como a acunpuntura, achei muito interessante essa técnica pois estimula a autoconfiança e ajuda a autofirmação. Deveria começar ser aplicada em crianças nas escolas, claro, com um planejamento específico para a área, com a finalidade de gerar autoconfiança e estímulo podendo se tornar aí uma técnica aliada do professor moderno."

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Pavarotti - Nessun Dorma

Homenagem a este estupendo cantor.

A nova agenda da educação até 2010

Vídeo gravado por secretária da Educação vai ao YouTube
By DANIELA TÓFOLIDA - REPORTAGEM LOCAL - Jornal Folha de São Paulo

Sem que a secretária estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, soubesse, um vídeo em que ela aparece explicando aos professores dez metas para a melhoria do ensino nos próximos anos foi parar no YouTube. O discurso, gravado na semana passada, foi colocado no ar por funcionários da própria secretaria."Não sei quem colocou o vídeo lá, era para ser apenas uma mensagem institucional", disse Maria Helena.O vídeo entrou no site na noite de quinta-feira e, até ontem, tinha tido 57 exibições. Na gravação, dirige-se apenas aos professores e pede, inclusive, que eles ajudem a melhorar as metas propostas. "Sem o seu apoio, nada disso se tornará realidade", afirma. Em seguida, divulga um endereço de e-mail e pede que docentes mandem sugestões e críticas.Ao saber que a mensagem estava na internet, ela tentou ver o lado bom: "Pode ser interessante divulgar as metas em uma nova mídia".Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da pasta explicou que a iniciativa de incluir a gravação no YouTube foi de funcionários da própria secretaria, já que o site é uma mídia gratuita e que alcança muita gente.
"Será mesmo que a educação continuada está bem apoiada, com alicerces sólidos para seu emprego aqui no Brasil? Ou será que a população de professores tem que se virar para aplicar esse método? Espero que sejam úteis as palavras de nossa querida Secretária."

A nova agenda da educação até 2010

VideEste vídeo não esta completo. Para verem o vídeo na íntegra acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=6CGR0VD5mpE

SP veta docente com formação a distância
DA SUCURSAL DO RIO


Uma demonstração de que a garantia de qualidade na educação a distância ainda está longe de ser consensual entre os educadores foi dada em junho deste ano pelo Conselho Municipal de Educação de São Paulo, que recomendou à prefeitura que não admitisse professores formados por essa modalidade de ensino.
O principal argumento dos conselheiros contra a educação a distância foi que, no município, não haveria a necessidade de contratar professores por essa modalidade, já que há número suficiente de docentes formados em cursos presenciais.

Concorrência
Os relatores José Augusto Dias e Rubens Barbosa de Camargo argumentaram em seu relatório que, no caso da cidade de São Paulo, os últimos concursos para contratação de professores tiveram concorrência de mais de 25 candidatos por vaga.
Afirmam ainda que, mesmo nas disciplinas em que há mais carência de professores no Brasil -como geografia, física e matemática-, houve número mais do que suficiente de candidatos em São Paulo.
Para eles, a contratação de professores a distância se justifica em casos emergenciais, o que não se verificaria na capital paulista. No entender dos membros do conselho, no caso da formação de professores, quando se pode escolher, o melhor é optar pela formação presencial.

Inapropriado
"Do ponto de vista pedagógico, não é apropriado falar em educação a distância para a formação de docentes. Os meios eletrônicos podem transmitir preciosos conhecimentos, mas a educação não se faz apenas com conhecimentos. Há valores essenciais a uma educação completa que somente é possível adquirir pela convivência", diz o relatório.

Noticia dada em 10 de setembro de 2007

By Folha de SP


Frase

"Apesar das inúmeras experiências bem-sucedidas em outros países, o ensino a distância continua sob fogo cruzado no Brasil, com o argumento de que vai piorar a qualidade"

DILVO RISTOFF
diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior


"Argumento esse sem sentido? Cabe a nós ficarmos em cima, para a Educação a Distância ser devidamente reconhecida, pois bem elaborada."

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

TV JORNAL - Notícias - Senac inscreve para Congresso Internacional de Tecnologia na Educação

TV JORNAL - Notícias - Senac inscreve para Congresso Internacional de Tecnologia na Educação: "Senac inscreve para Congresso Internacional de Tecnologia na Educação 20/09/2007 08h43 Do JC OnLine Já estão abertas as inscrições para o V Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, que acontece de 3 a 5 de outubro, no Centro de Convenções, em Olinda. Os interessados podem se inscrever no site www.tecnologianaeducacao.com.br ou se dirigir a qualquer unidade do Senac e Sesc, da capital e do interior, ou, ainda, à sede da Federação de Comércio do Estado de Pernambuco, na Av. Visconde de Suassuna, n° 255, na Boa Vista. Até o dia 20 de setembro, a inscrição custa R$ 50, e, para as pessoas que optarem por participar também de um minicurso, o valor é de R$ 70. Após essa data, o valor será de R$ 60 e, incluindo um minicurso, de R$ 80. O Congresso oferecerá palestras, painéis, mesas redondas, conferências, minicursos com renomados ministrantes e atividades no Salão de Tecnologia – com inúmeras novidades sobre livros, tecnologias para a ação educativa, entre outros – e no Espaço do Conhecimento, onde professores ou entidades de ensino irão expor ao público resumos de trabalhos científicos referentes à área de educação. "

Textos Interessantes

Clarisse Lispector


Felicidade Clandestina
In Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro, Rocco, 1998.

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um
livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o,
dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu,e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo.
E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa,adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Alberto Caieiro

Poemas diversos
Alberto Caeiro

Quando Eu
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.



Vai Alta no Céu
Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.



O Amor é uma Companhia
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


O Pastor Amoroso
O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe pira tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu.
Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
estão presentes.
(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco
nos pulmões)
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor,
uma liberdade
no peito.